quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Ecoalfabetização e Consumo

A passagem necessária da lógica produção-consumo à ecoalfabetização

“No passado, penso logo existo. No presente, nem penso logo consumo. No futuro penso, por quê?” (Anita Prado)

Ir. Maicon Donizete Andrade Silva, FMS

Ao olhar a intensa realidade do sistema de produção e consumo da sociedade contemporânea, é perceptível a necessidade de uma reflexão apurada acerca da temática “ecoalfabetização e sustentabilidade” como caminho necessário para um despertar da consciência humana quanto à importância de uma educação ecológica capaz de desenvolver no ser humano a sensibilidade para o cuidado e preservação do planeta.


Frente ao sistema de produção-consumo que impera na sociedade do capital, faz-se necessário uma atenção especial para os danos provocados por essa exploração desenfreada que foca seu olhar somente sobre a sua capacidade de gerar capital. Dessa forma, a lógica que move o mercado do consumo desenfreado é “diga-me quanto consomes e te direi quanto vales”. A partir dessa ótica, percebemos como o ser humano foi se desvalorizando ao longo da história, chegando ao ponto de se tornar somente objeto consumidor do que o mercado produz.

O consumidor exemplar é aquele que consome sem mesmo se perguntar sobre a origem do produto consumido. Este não se preocupa em questionar as estrurturas sociais às quais vive submisso. Não interessa ao mercado que seu consumidor tenha capacidade de reflexão e visão crítica, mas somente que se sinta feliz e satisfeito com aquilo que lhe é oferecido. Reforça a idéia de um ciclo linear pela lógica do produzir-consumir-descartar, produzir-consumir-descartar... Esse é o caminho vicioso que movimenta o mercado capitalista que quer enriquecer-se a qualquer custo.

Falar em ecoalfabetização e sustentabilidade implica tecer uma crítica ao sistema de produção e consumo dos grandes mercados como os Estados Unidos, crítica essa que pode ser estendida a todos os países de primeiro mundo e também aos países em desenvolvimento, que são verdadeiros “consumidores” dos modismos lançados pelos considerados países ricos. Essa é a reprodução do que se falava nos EUA no período anterior à crise de 29. Era a euforia do consumo, ilustrada pelo slogan “american way of life” (estilo americano de vida) que passou a influenciar todo o mundo desde este perído até a atualidade.

Um elemento importante de percebermos é a descartabilidade das coisas na atualidade (cultura do descartável). Aqui, além dos objetos utilizáveis, podemos acrescentar as relações que muitas vezes se tornam descartáveis. Isso mostra a realidade atual da preocupação do sujeito estar focada somente sobre si mesmo, sem qualquer preocupação com as pessoas e nem com o meio à sua volta. Dessa forma, qualquer atitude de cuidado para com a vida humana e a vida do planeta perde o seu valor. As relações só são valorizadas se trazem prazer e contentamento, o que em muitos casos é confirmado por uma pseudo-felicidade.

O mercado fomenta uma aparente necessidade de consumo como caminho para falso bem-estar. No próprio ato da propaganda faz-se a apresentação de um produto que, além de si mesmo, carrega um grande teor simbólico. Na roupa tão bem apresentada pelo modelo, no creme dental que deixa os dentes brancos e o sorriso bonito, no carro que atrai a atenção das mulheres bonitas, na cerveja do final de semana que traz a imagem da mulher sexy do comercial, no protetor solar usado pela moças na praia que é capaz de atrair e deixar os homens a seus pés, em tudo isso há um despertar no indivíduo da ilusão de sentir-se como os atores bonitos, ricos e felizes apresentados nos comerciais. É um mercado que forja e cria necessidades a partir das quais é necessário consumir sempre mais para alcançar a dita realização; quem não consome está alheio à “onda do momento”.

Frente a essa realidade, é importante construirmos uma nova lógica não mais sustentada pela cultura do consumo, mas sobre uma cultura de cuidado e preservação. A ecoalfabetização é uma chamada de atenção para a necessidade de uma alfabetização ecológica que conscientize o ser humano quanto aos impactos causados por essa lógica desenfreada de produção-consumo que atualmente vigora. Eis que o desafio que se impõe é conciliar desenvolvimento e ecologia. Algo importante nessa perspectiva, é resgatar a relação homem-natureza como seres interdependentes dentro da teia da vida (rede de relações). Somente um ser ecologicamente alfabetizado tem possibilidade de questinar as estruturas sociais que fomentam o consumo desenfreado e a exploração desmedida do ecossistema.

É fudamental resgatar o equilíbrio adormecido existente entre economia e ecologia, duas variantes com raiz comum que tem papel importante no desenvolvimento humano. Por ecologia entendemos a interrelação que o ser humano estabelece entre si e o ecossistema, e economia consiste na produção, distribuição e consumo de bens e serviços. Em sintese, podemos dizer que os dois termos são correlacionados, pois ambos, por essência, estão em função da vida humana e planetária. Economia e ecologia originam-se do grego “oikos”, que significa casa comum, morada. Esse é o sentido fundamental que precisa ser resgatado que é a relação de cuidado para com a nossa casa comum que é o planeta terra.

A consciência quanto à diversidade da vida terrena nos alerta e nos faz tomar consciência quanto às riquezas existentes no mundo onde vivemos. A volta ou mesmo a construção de um equilíbrio na relação homem-natureza é uma atitude de resiliência que pode nos aproximar de uma nova relação de sustentabilidade que faça a vida prosperar de forma sadia e equilibarada. Por isso é importante hoje reacender no coração humano os valores que os princípios da ecologia carregam em si: interdependência, reciclagem, parceria, flexibilidade, diversidade e sustentabilidade. Da consciência desses princípios depende a sobrevivência da humanidade que passa necessariamente pela alfabetização ecológica.