quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Entre risos e esperanças

Sorria...

Ei! Sorria…
Mas não se esconda atrás desse sorriso…
Mostre aquilo que você é, sem medo.
Existem pessoas que sonham com o seu sorriso, assim como eu.
Viva! Tente! A vida não passa de uma tentativa.
Ei! Ame acima de tudo, ame a tudo e a todos.
Não feche os olhos para a sujeira do mundo, não ignore a fome!
Esqueça a bomba, mas antes, faça algo para combatê-la,
mesmo que se sinta incapaz.
Procure o que há de bom em tudo e em todos.
Não faça dos defeitos uma distância, e sim, uma aproximação.
Aceite! A vida, as pessoas, faça delas a sua razão de viver.
Entenda! Entenda as pessoas que pensam diferente de você, não as reprove.
Ei! Olhe… Olhe a sua volta, quantos amigos…
Você já tornou alguém feliz hoje?
Ou fez alguém sofrer com o seu egoísmo?
Ei! Não corra. Para que tanta pressa? Corra apenas para dentro de você.
Sonhe! Mas não prejudique ninguém e não transforme seu sonho em fuga.
Acredite! Espere! Sempre haverá uma saída, sempre brilhará uma estrela.
Chore! Lute! Faça aquilo que gosta, sinta o que há dentro de você.
Ei! Ouça… Escute o que as outras pessoas têm a dizer, é importante.
Suba… faça dos obstáculos degraus para aquilo que você acha supremo,
Mas não esqueça daqueles que não conseguem subir a escada da vida.
Ei! Descubra! Descubra aquilo que há de bom dentro de você.
Procure acima de tudo ser gente, eu também vou tentar.

Charles Chaplin

sábado, 11 de dezembro de 2010

Identidade e Negritude

Identidade e o ser negro na sociedade atual

Ir. Maicon Donizete Andrade Silva, FMS

Introdução

Vivemos numa sociedade marcada pela diversidade, seja cultural, étnica, religiosa, de pensamento ou de expressões diversas quanto ao jeito de vestir-se e se comportar. Um dos grandes desafios que um mundo contemporâneo nos apresenta diz respeito ao modo como lidamos com tal diversidade.

Essa realidade sinaliza a importância de um reconhecimento das diferenças culturais e étnicas que nos constituem, possibilitando-nos perceber que o ambiente onde nos encontramos inseridos tem papel um fundamental no processo de desenvolvimento de nossa identidade enquanto sujeitos. Por isso, a uma reflexão sobre consciência de negritude torna-se necessária para colaborar com o desenvolvimento de uma identidade afrodescendente que resgate a história e busque o fortalecimento das lutas do povo negro no hoje da história.

Identidade: conceituação e importância

A reflexão identitária é fundamental na construção do sentido e compreensão da própria existência enquanto indivíduo e como pessoa inserida na sociedade.

O termo identidade origina-se do latim identitas, que significa “idem”, “o mesmo”. Segundo o pesquisador Ricardo Franklin Ferreira (FERREIRA, 2004), identidade pode ser considerada como uma referência em torno da qual o indivíduo se constitui, estando em constante transformação e construída a partir das relações que ele estabelece consigo mesmo, com o outro e com o ambiente à sua volta. Podemos compreender essa construção da identidade como um processo dinâmico em torno do qual o indivíduo se referencia, constrói a si e a seu mundo e desenvolve um sentido de autoria, ou seja, faz o caminho de autoconscientização, tornando-se sujeito e artífice na vivência da sua identidade.

Identidade é uma categoria efetivamente importante para compreendermos como o indivíduo se constitui, influenciando sua auto-estima e sua maneira de existir. Neste sentido, é fundamental, para a compreensão da problemática do afro-descendente, o conhecimento da maneira como ele desenvolve sua identidade, principalmente em contextos sociais adversos, onde é discriminado. Isso nos ajuda a perceber que o indivíduo parte de uma determinada realidade legitimadora das estruturas de dominação e faz o caminho de percepção do valor da resistência como meio para a construção de uma identidade sustentada em torno de um projeto sólido.

Negritude: o despertar de uma consciência

Uma reflexão acerca do conceito de negritude, hoje, surge como verdadeira necessidade e também como oportunidade. Primeiro como necessidade, pois nos convida a ler a realidade e perceber como a negritude tem sido vista e mostrada pela sociedade e como os próprios negros e negras lidam com esse tema. É uma oportunidade, porque surge como uma chance de mostrar as riquezas que a cultura e as tradições afro-descendentes carregam.

Podemos definir negritude (do francês négritude) a partir do nome dado a uma corrente literária que agregou escritores negros de língua francesa e também um modo de pensar a identidade a partir da valorização da cultura negra em países africanos e com as populações afrodescendentes nos diversos cantos do mundo, vítimas da opressão colonial.

Uma outra definição que nos é apresentada pelo Aurélio diz que negritude consiste na “fase de conscientização, pelos povos africanos, da opressão colonialista, a qual busca reencontrar a subjetividade negra, observada objetivamente na fase pré-colonial e perdida pela dominação da cultura branca ocidental”. As duas conceituações apresentadas mostram-se complementares. Hoje elas nos ajudam a compreender a negritude como busca de reafirmação da identidade por parte dos povos afro-descendentes. Dois elementos importantes são destacados: valorização cultural e conscientização. São dois eixos fundamentais na luta em defesa da dignidade de um povo.

A partir dessas conceituações podemos perceber a negritude como um processo de conscientização feito pelo agente negro quanto ao seu valor racial. É um caminho de auto-valorização e percepção do seu papel enquanto sujeito de direitos na da sociedade.

Resgatando a história do povo negro no Brasil

A história dos afrobrasileiros convida-nos a olhar o que significou a presença desse grupo em terras brasileiras, por ter sido um povo que contribuiu de forma significativa com a estruturação social, política, econômica e cultural da nação.

Ao longo desses séculos de convívio das populações negra, européia e indígena no Brasil, ocorreu o processo que chamamos miscigenação. Dessa forma, deu-se a mistura entre esses povos e, por conseguinte, aqueles que descendem de forma mais direta da herança africana a partir dos valores culturais, da culinária, da cor da pele, o modo de pensar, a revolta contra a escravidão dos antepassados e o comércio de seus cocidadãos, são considerados afrobrasileiros.

Os primeiros 30 anos de colonização caracterizaram-se pelo povoamento e exploração extrativista do pau-brasil. Até então, era utilizada a mão de obra indígena que, sob o poder dos colonizadores, eram obrigados ao duro trabalho de estração da madeira. Praticava-se o chamado sistema de escambo, troca de produtos sem fazer uso de moeda, ou seja, a troca da atividade realizada por mercadorias de baixo valor.

Diante das dificuldades encontradas pelos europeus no processo de escravização dos indígenas, os colonizadores encontram a utilização de escravos africanos como alternativa. Iniciou-se o trafico com negros vindos da Africa que tiveram roubadas sua dignidade africana, sua cultura, sua liberdade e lançados numa terra estranha para trabalharem na condição de escravos. Condicionados ao esteriótipo “propriedade senhoril”, eram obrigados a diversas atividades, destacando-se as atividades agrícolas (lavoura), especialmente o cultivo da cana-de-açúcar.. Também atuavam na mineração (estração de ouro) e os serviços domésticos.

A atividade do tráfico negreiro foi extremamente lucrativa e se estendeu até 1850, quando com o decreto da Lei Eusébio de Queirós que proibiu o tráfico de escravos. Já em 1871 foi promulgada a Lei do Ventre Livre, que garantia a liberdade aos filhos de escravos nascidos a partir daquela data. O sistema escravista se enfraqueceu mais ainda em 1885 com a Lei dos Sexagenários, que libertou todos os escravos com mais de 60 anos de idade. Vale lembrar que todas essas leis vieram como pressão de uma sociedade que já não suportava mais a realidade da escravidão. É importante lembrar que todos esses “libertos” foram lançados numa sociedade sem a menor estrutura para acolhê-los, deixados à marginalização e à própria sorte. Não havendo mais sustentabilidade do sistema escravagista, no dia 13 de maio de 1888, a Lei Áurea foi assinada pela Princesa Isabel, extinguindo oficialmente a escravidão no Brasil.

A história nos ajuda a perceber que ser afro-descendente significa ser herdeiro de uma caminhada de luta e resistência do povo negro. Foram três séculos de exploração que produziram duras consequências, como: desiguladade, pobreza, discriminação, violência, os cortiços e favelas. São duras realidades que se estenderam ao longo dos tempos. Se temos uma grande massa de explorados hoje é consequencia de uma história de exclusão e negação do direito de vida digna aos empobrecidos.

Movimento Negro: organização do povo negro na defesa de sua dignidade

Movimento Negro é o termo genérico usado para designar o conjunto dos diversos movimentos e organizações sociais protagonizadaos pelos afrobrasileiros. Esses movimentos de organização do povo negro perpassam toda a história do Brasil. Até a Abolição da Escravatura em 1888, estes movimentos eram quase sempre clandestinos e de caráter radical, visto que seu principal objetivo era a libertação dos negros escravizados.

A partir disso, um ponto significativo a constatarmos é que o Movimento Negro tem seu surgimento com a chegada do primero negro no Brasil. Aí iniciou-se a luta e a resistência de um pouco “tirado à força”de sua nação para ser escravizado nas novas terras de colonização. Essa resistência se deu no passado e, hoje, continua viva no coração de cada negro que luta.

Organização do povo negro no âmbito eclesial

No campo eclesial, a organização do povo negro se deu de forma efetiva através da Pastoral Afrobrasileira. A Pastoral Afro constitui-se como ação organizada do povo afro-descendente no seio da Igreja Católica, como espaço para o cultivo da valorização e o reconhecimento de sua identidade enquanto negro/a.

Esta Pastoral forma-se a partir da articulação entre ricas experiências no seio da Igreja do Brasil, como os APNs (Agentes de Pastoral Negros), GRENI (Grupo de Reflexão dos Religiosos Negros e Indígenas), Instituto Mariama e outros. Assim, percebemos que esses são espaços decisivos na via eclesial que muito colaboram no processo de construção da identidade do povo afro-descendente. São grupos de ação diretamente ligados à Pastoral Afrobrasileira que, em comunhão com a Igreja, buscam tecer um novo olhar de sociedade na ótica da negritude.

A Pastoral Afrobrasileira e a construção da identidade afro-descendente

A Pastoral Afrobrasileira exerce papel fundamental no processo de levar o indivíduo a conscientizar-se quanto às origens africanas embutidas no(a) negro(a) afro-descendente.

É significativo destacar a importância dessa Pastoral e dos diversos grupos que a integram numa missão que se soma (Agentes de Pastoral Negros - APNs, Grupo de Religiosos e Religiosas Negros(as) e Indígenas - GRENI, Instituto Mariama- IMA e tantos outros), como espaços que oportunizam ao afro-descendente conscientizar-se quanto ao valor da sua identidade enquanto negro e negra, bem como o seu papel enquanto agente transformador na construção de uma nova realidade social;

Sabemos que o processo de construção da identidade afro-descendente é lento e, para que seja efetivo, é preciso que a sociedade como um todo e a própria Igreja assumam, de forma efetiva, a missão de formar um povo consciente daquilo que é, suas origens, os valores que carregam e as possibilidades de uma caminhada feita em comunhão. Negros, indígenas e brancos, como constituintes fundamentais da nação brasileira, todos são chamados a viver uma unidade integrada a partir das suas diversidades.

Avanços e perspectivas para a caminhada do povo negro no Brasil

A história do povo negro no Brasil apresenta-se a nós como caminhada de luta e resistência. Muitas foram as conquistas ao longo do caminho. Mas ainda há que se superar o grande abismo social que separa ricos e pobres, entre os quais os negros se encontram entre os mais pobres da sociedade brasileira, sendo, assim, vitimados pelo preconceito, o massacrador sistema prisional, o desemprego e a falta de uma educação de qualidade que lhe dê possibilidades de buscar um futuro melhor. Além das lutas no campo social, convém mencionar a necessária continuidade no processo de luta em busca de uma verdadeira “cidadania eclesial.”

Recentemente foi aprovado pela Câmara e o Senado, e, sancionado pelo presidente Lula, o Estatuto da Igualdade Racial. Este é um significativo instrumento, fruto das lutas do povo negro, concebido para alcançar direitos essenciais à população negra brasileira em sua totalidade e, portanto, crianças, adolescentes, jovens e idosos são destinatários e beneficiários da norma.

O Estatuto tem caráter compensatório e, sobretudo reparatório, no sentido de garantir direitos historicamente negados ao povo negro, de forma que lhe conceda condições de promover-se enquanto pessoa na sociedade. O documento final assegura leis que tem por objetivo combater a discriminação racial incidentes sobre a população negra e a implementação de políticas públicas pelo Estado contemplando os seguintes eixos de atuação: saúde, educação, cultura, esporte, lazer, liberdade de consciência, de crença e livre exercício dos cultos religiosos, financiamento das iniciativas de promoção da igualdade racial, e moradia adequada, direito dos remanescentes das comunidades dos quilombos às suas terras, mercado de trabalho, entre outras.

Concluindo

Conscientes de que a história nem sempre colaborou para que essa unidade se construa de forma efetiva, fica para todos como lição e aprendizado da caminhada. Que os erros cometidos no passado das relações senhor/escravo, de uns se sobreporem aos outros, sirvam de lição para que percebamos que somos chamados a viver a partir de um “ethos” comum que nos integre como seres humanizados e capazes de também humanizar nossas relações.

A utopia de se chegar ao reino definitivo e do Quilombo-Páscoa já começa a acontecer na dura realidade da comunidade negra. O que motiva esta caminhada são as luzes que cada dia brilham no horizonte de nossa terra e de nossa história. Em cada novo grupo que surge, em cada encontro que se realiza, em cada negro(a) que descobre a sua negritude, em cada negro(a) que nasce, em cada negro(a) que aceita o desafio de levar a negritude avante, pois é por meio dessa realidade de redescoberta de nossa liberdade, de nosso jeito de ser a nossa cidadania, que a força do axé se multiplica. Para cada negro que tomba lutando pela causa da negritude, outros cinco virão, para levar à frente a nossa história, nossa cultura, nossa religião e nosso axé (In TEIXEIRA, Sebastião (sdb). Vida Religiosa e Negritude. Convergência, n. 284, 1995).

Sejamos os sujeitos, verdadeiros protagonistas, na missão de construir um mundo onde todos sejam conscientes de suas origens e sua identidade, pessoas capazes de desenvolver uma postura de valorização das suas raízes. Tracemos nossa marca no mundo a partir de uma cultura do cuidado e do acolhimento das riquezas que as diversas culturas nos apresentam.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Estatuto da Igualdade Racial



Ir. Maicon Donizete Andrade Silva, FMS

A caminhada do povo negro no Brasil historicamente foi e continua sendo marcada por três elementos fundantes: luta, resistência e esperança.

A luta remete-nos aos antepassados que enfrentaram as durezas da escravidão, lutaram bravamente e tombaram pela conquista de sua liberdade. Essa é a mesma luta que hoje anima o caminhar do povo afrobrasileiro hoje.

A resistência foi a sua forma de luta de se fez pelo não abaixar a cabeça frente à opressão dos grandes, mas constituiu-se desde a chegada do primeiro negro no Brasil e se faz como eixo motivador na vida do povo negro em nosso tempo.

A esperança é a virtude que permite ao negro manter-se de pé e com os olhos levantados. É ela que o faz acreditar em um novo tempo no qual será respeitado nos valores de sua dignidade enquanto negro.

A consciência de sua identidade é força que é animada pelo axé de suas raízes. Assim se faz a caminhada do povo negro em nosso Brasil: um povo que luta, resiste, caminha na fé e na esperança de um novo tempo; um povo que se deixa mover pelo força do axé da grande festa da vida que nasce e renasce a cada dia.

O Estatuto da Igualdade Racial aponta-nos um novo Kairós na caminhada do povo afrobrasileiro. É tempo de celebrar nossas conquistas com essa nova lei que sustenta, fundamenta e cria condições para a promoção da igualdade racial em diversas questões, como educação, saúde, terras quilombolas, justiça, segurança, cultura, entre outros. O mesmo foi sancionado pelo presidente Lula no dia 20 de 2010 e entrou em vigor 20 de outubro.

Agora é hora de efetivar aquilo que a lei nos assegura e continuar a caminhada de luta, resistência e esperança em um novo tempo para o povo afrodescendente.


quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Ecologia e cuidado

Ecologia e cuidado

Em busca de um ethos que sustente a vida

Ir. Maicon Donizete Andrade Silva, FMS

O ser humano constitui-se, por essência, como um ser social e, por conseqüência direta, um ser de relações. Enquanto pessoa, estabelecemos elos de relação conosco mesmos, com as pessoas à nossa volta, com a natureza, com o transcendente e tudo o mais que existe. Toda relação implica contato com uma realidade a partir da qual vamos nos construindo culturalmente, a partir de uma carga de valores e princípios que passarão a orientar nossa existência.

Falar de ecologia e cuidado implica necessariamente falar do modo como estabelecemos relação com o meio que nos circunda. É essa relação que vai apontar nossa capacidade de pertença e sintonia com o mundo a nossa volta. A palavra ecologia deriva do grego “oikos”, que significa “casa comum”, ou seja, constitui-se como a inter-relação que estabelecemos conosco mesmos e com o meio ambiente. Nesse mesmo sentido, o termo cuidado nos remete a um “modo de ser” singular do ser humano, ou seja, está relacionado à natureza do ser enquanto ser-no-mundo.

Por “ethos” (grego) podemos compreender como sendo a “morada humana”, ou seja, nossa essência ou o conjunto de princípios que norteiam a vida da comunidade humana. Daí provém a palavra ética, que nos aproxima da relação estabelecida conosco e toda a realidade a nossa volta. Ao pensar em ethos, somos convidados a pensar no “ethos humano” como algo que nos faz conscientes de nossa condição de criatura chamada a colaborar com a continuidade do mistério criacional, a partir de uma relação de preservação e cuidado.

Ao olhar a realidade a nossa volta nos deparamos com um grave problema que atinge não somente o ser humano, mas influencia toda forma de vida e o planeta como um todo, que consiste nas relações individualistas e fragmentadoras da realidade. Nesse sentido, a preocupação do sujeito, centrada somente sobre si e o seu bem-estar pessoal, é geradora de uma humanidade sem sensibilidade relacional.


Vivemos numa sociedade marcada por muitas contradições que denigrem aquilo que o ethos verdadeiro propõe como essência própria da dignidade humana. Por exemplo, podemos citar a descartabilidade das relações, a fragilidade da política que, em muitas situações, coloca-se como instrumento para benefício e enriquecimento de uns poucos, à custa da exploração de muitos e também uma educação que não oferece à população uma formação sólida e com qualidade, capaz de formar sujeitos conscientes de seus direitos e deveres. Junto a isso, soma-se a realidade de degradação do planeta, fruto de uma desenfreada exploração dos recursos naturais.

A canção “coração de estudante”, de Milton Nascimento, lembra-nos que “há que se cuidar do broto, pra que a vida nos dê flor e fruto”, e, em seqüência, também nos diz que “é preciso cuidar da vida e do mundo”. Essa, com certeza já seria uma boa síntese para compreendermos que ecologia e cuidado são palavras inter-relacionadas. São como que expressões indicativas de ação/movimento que nos pedem postura, ou seja, uma atitude de sair do lugar cômodo para assumir uma atitude de cuidado ativo, capaz de conduzir-nos a um posicionamento compromissado com o cuidado com a vida, como condição fundamental para a continuidade da existência.

Ecologia e cuidado vem como sinaleiros que nos apontam o ethos sustentador da vida. Por isso, torna-se urgente resgatar o sentido profundo dessas expressões que nos convocam à consciência de que pertencemos a uma “casa comum” (oikos) que precisa ser cuidada como o broto, para que continue a nos dar flor e fruto. Aí se constrói nossa “morada humana” (ethos). O ethos é nossa essência enquanto seres humanos. Ele é o fundamento da vida e, a todo instante, nos indicará se estamos ou não, de fato, comprometidos com a sustentação da vida humana e a preservação do planeta.

Fica a necessidade de, permanentemente, renovar em nós a esperança e o desejo de construir um mundo novo, moldado por uma profunda sintonia na relação homem-natureza. Nessa nova relação, o ser humano é chamado a arriscar sem medo, superar suas presunções, conquistar novos horizontes e oferecer seu tempo e sua inteligência como ingredientes necessários ao “prato da vida”, do qual o ingrediente mais importante é o “ethos”, que nos conduzirá à nossa essência de “imagem e semelhança de Deus”, chamados a colaborar como co-criadores na plenificação da vida.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Ecoalfabetização e Consumo

A passagem necessária da lógica produção-consumo à ecoalfabetização

“No passado, penso logo existo. No presente, nem penso logo consumo. No futuro penso, por quê?” (Anita Prado)

Ir. Maicon Donizete Andrade Silva, FMS

Ao olhar a intensa realidade do sistema de produção e consumo da sociedade contemporânea, é perceptível a necessidade de uma reflexão apurada acerca da temática “ecoalfabetização e sustentabilidade” como caminho necessário para um despertar da consciência humana quanto à importância de uma educação ecológica capaz de desenvolver no ser humano a sensibilidade para o cuidado e preservação do planeta.


Frente ao sistema de produção-consumo que impera na sociedade do capital, faz-se necessário uma atenção especial para os danos provocados por essa exploração desenfreada que foca seu olhar somente sobre a sua capacidade de gerar capital. Dessa forma, a lógica que move o mercado do consumo desenfreado é “diga-me quanto consomes e te direi quanto vales”. A partir dessa ótica, percebemos como o ser humano foi se desvalorizando ao longo da história, chegando ao ponto de se tornar somente objeto consumidor do que o mercado produz.

O consumidor exemplar é aquele que consome sem mesmo se perguntar sobre a origem do produto consumido. Este não se preocupa em questionar as estrurturas sociais às quais vive submisso. Não interessa ao mercado que seu consumidor tenha capacidade de reflexão e visão crítica, mas somente que se sinta feliz e satisfeito com aquilo que lhe é oferecido. Reforça a idéia de um ciclo linear pela lógica do produzir-consumir-descartar, produzir-consumir-descartar... Esse é o caminho vicioso que movimenta o mercado capitalista que quer enriquecer-se a qualquer custo.

Falar em ecoalfabetização e sustentabilidade implica tecer uma crítica ao sistema de produção e consumo dos grandes mercados como os Estados Unidos, crítica essa que pode ser estendida a todos os países de primeiro mundo e também aos países em desenvolvimento, que são verdadeiros “consumidores” dos modismos lançados pelos considerados países ricos. Essa é a reprodução do que se falava nos EUA no período anterior à crise de 29. Era a euforia do consumo, ilustrada pelo slogan “american way of life” (estilo americano de vida) que passou a influenciar todo o mundo desde este perído até a atualidade.

Um elemento importante de percebermos é a descartabilidade das coisas na atualidade (cultura do descartável). Aqui, além dos objetos utilizáveis, podemos acrescentar as relações que muitas vezes se tornam descartáveis. Isso mostra a realidade atual da preocupação do sujeito estar focada somente sobre si mesmo, sem qualquer preocupação com as pessoas e nem com o meio à sua volta. Dessa forma, qualquer atitude de cuidado para com a vida humana e a vida do planeta perde o seu valor. As relações só são valorizadas se trazem prazer e contentamento, o que em muitos casos é confirmado por uma pseudo-felicidade.

O mercado fomenta uma aparente necessidade de consumo como caminho para falso bem-estar. No próprio ato da propaganda faz-se a apresentação de um produto que, além de si mesmo, carrega um grande teor simbólico. Na roupa tão bem apresentada pelo modelo, no creme dental que deixa os dentes brancos e o sorriso bonito, no carro que atrai a atenção das mulheres bonitas, na cerveja do final de semana que traz a imagem da mulher sexy do comercial, no protetor solar usado pela moças na praia que é capaz de atrair e deixar os homens a seus pés, em tudo isso há um despertar no indivíduo da ilusão de sentir-se como os atores bonitos, ricos e felizes apresentados nos comerciais. É um mercado que forja e cria necessidades a partir das quais é necessário consumir sempre mais para alcançar a dita realização; quem não consome está alheio à “onda do momento”.

Frente a essa realidade, é importante construirmos uma nova lógica não mais sustentada pela cultura do consumo, mas sobre uma cultura de cuidado e preservação. A ecoalfabetização é uma chamada de atenção para a necessidade de uma alfabetização ecológica que conscientize o ser humano quanto aos impactos causados por essa lógica desenfreada de produção-consumo que atualmente vigora. Eis que o desafio que se impõe é conciliar desenvolvimento e ecologia. Algo importante nessa perspectiva, é resgatar a relação homem-natureza como seres interdependentes dentro da teia da vida (rede de relações). Somente um ser ecologicamente alfabetizado tem possibilidade de questinar as estruturas sociais que fomentam o consumo desenfreado e a exploração desmedida do ecossistema.

É fudamental resgatar o equilíbrio adormecido existente entre economia e ecologia, duas variantes com raiz comum que tem papel importante no desenvolvimento humano. Por ecologia entendemos a interrelação que o ser humano estabelece entre si e o ecossistema, e economia consiste na produção, distribuição e consumo de bens e serviços. Em sintese, podemos dizer que os dois termos são correlacionados, pois ambos, por essência, estão em função da vida humana e planetária. Economia e ecologia originam-se do grego “oikos”, que significa casa comum, morada. Esse é o sentido fundamental que precisa ser resgatado que é a relação de cuidado para com a nossa casa comum que é o planeta terra.

A consciência quanto à diversidade da vida terrena nos alerta e nos faz tomar consciência quanto às riquezas existentes no mundo onde vivemos. A volta ou mesmo a construção de um equilíbrio na relação homem-natureza é uma atitude de resiliência que pode nos aproximar de uma nova relação de sustentabilidade que faça a vida prosperar de forma sadia e equilibarada. Por isso é importante hoje reacender no coração humano os valores que os princípios da ecologia carregam em si: interdependência, reciclagem, parceria, flexibilidade, diversidade e sustentabilidade. Da consciência desses princípios depende a sobrevivência da humanidade que passa necessariamente pela alfabetização ecológica.



quarta-feira, 25 de agosto de 2010

A construção da identidade Afro-descendente

 A construção da identidade Afro-descendente na Pastoral Afro


Imagem: Paulo Fortes

A identidade afro-descendente como processo de construção

Ir. Maicon Donizete Andrade Silva

Apresentação

Este artigo tem a finalidade de refletir sobre o processo de construção da identidade do negro e da negra na Pastoral Afro-brasileira e como se constitui o caminho de conscientização quanto à negritude. Para tanto, faz-se necessário a compreensão de alguns termos fundamentais: identidade, afro-descendente, negritude, Pastoral Afro. A percepção do modo como esses elementos se entrelaçam nos ajuda a perceber que o caminho de conscientização e formação de uma identidade afro-descendente é um processo a ser construído.

A partir de ricas experiências no seio da Igreja como os APNs (Agentes de Pastoral Negros), GRENI (Grupo de Reflexão dos Religiosos Negros e Indígenas), Instituto Mariama e outros, percebemos que esses são espaços decisivos na via eclesial que muito colaboram no processo de construção da identidade do povo afro-descendente. São grupos de ação diretamente ligados à Pastoral Afro-Brasileira que, em comunhão com a Igreja, buscam tecer um novo olhar de sociedade na ótica da negritude.

No presente texto mostramos como a Pastoral Afro-brasileira contribui nesse processo de construção identitária e na auto-afirmação dos afro-descendentes quanto ao ser negro e negra, no que diz respeito à valorização de suas raízes africanas.

Clique aqui para ler o texto na íntegra

sábado, 7 de agosto de 2010

Só depende de nós...

Só depende de nós...


"Hoje levantei cedo pensando no que tenho a fazer antes que o relógio marque meia noite. É minha função escolher que tipo de dia vou ter hoje.

Posso reclamar porque está chovendo ou agradecer às águas por lavarem a poluição. Posso ficar triste por não ter dinheiro ou me sentir encorajado para administrar minhas finanças, evitando o desperdício. Posso reclamar sobre minha saúde ou dar graças por estar vivo.

Posso me queixar dos meus pais por não terem me dado tudo o que eu queria ou posso ser grato por ter nascido. Posso reclamar por ter que ir trabalhar ou agradecer por ter trabalho. Posso sentir tédio com o trabalho doméstico ou agradecer a Deus por ter um teto para morar.

Posso lamentar decepções com amigos ou me entusiasmar com a possibilidade de fazer novas amizades. Se as coisas não saíram como planejei posso ficar feliz por ter hoje para recomeçar.

O dia está na minha frente esperando para ser o que eu quiser. E aqui estou eu, o escultor que pode dar forma.

Tudo depende só de mim."

(Charles Chaplin)